Quem são e o que querem esses que pretendem criminalizar a advocacia criminal?

  


O ódio à advocacia criminal, além de ser fruto de uma profunda ignorância, não tem outra razão de ser que não seja o fato de que os/as criminalistas compõem a linha de frente no enfretamento aos abusos e excessos do poder punitivo e representam verdadeiros óbices aos interesses escusos e antidemocráticos de personalidades autoritárias e seus projetos políticos tirânicos.

 

Diogo Malan citando David Rudovski[1] relata que houve período no qual, nos Estados Unidos da América, os defensores de acusados comunistas eram considerados tão perigosos quanto seus clientes, esses que, como se sabe, eram vistos como ameaça a ser expurgada, pelo medo da teoria conspiratória da “ameaça comunista”, tão frequentemente usada como ferramenta de descredibilização de adversários políticos e de desinformação.

 

Voltando ao que nos interessa, é inegável que se toda ação é voltada para uma finalidade. Assim sendo, certamente, esses que tentam criminalizar a atividade da advocacia criminal também têm objetivos específicos.

 

O que pretendem, pois, esses que atentam contra o sagrado direito de defesa?

 

Ora, sabemos que o Estado é munido por todo um arsenal de mecanismos e instrumentos quando da persecução penal e o acusado, por sua vez, dispõe única e exclusivamente de sua defesa técnica, que é exercida por meio de profissional da advocacia.

 

Toda tentativa de atacar a advocacia criminal (seja violando o sigilo das comunicações entre advogados e seus clientes, seja por meio de campanhas midiáticas de exposição de profissionais que assumem defesas em casos polêmicos, seja por meio de questionamentos incabíveis acerca da origem do pagamento dos honorários advocatícios, etc) tem por finalidade a fragilização do direito de defesa e, em última instância, representam uma tentativa de fraude a esse direito constitucional para que o acusado se torne ainda mais vulnerabilizado no contexto processual penal.

 

Não é vão lembrar que a atividade da advocacia é essencial ao Sistema de Justiça[2]. Além de ser permitida, ela é juridicamente neutra, na medida em que tem finalidade própria, qual seja, a defesa do direito de pessoa processualmente representada e, portanto, alheia, independente e desconectada de eventual atividade ilícita que tenha sido ou não praticada por esta pessoa a quem se representa no contexto do processo.

 

Isso não exclui a possibilidade de punição de profissional que atue com desvio de finalidade. O que não se pode, em verdade, é criminalizar a legítima atuação dos advogados e advogadas que representam os direitos e interesses processuais de pessoas criminalmente acusadas, como se isso, por si só, fosse elemento suficiente a inquinar a sua credibilidade.

 

Toda leviana tentativa de levantar suspeita em relação à advocacia criminal, invariavelmente, fere de morte o livre exercício profissional que nada mais é do que um direito sacramentado como cláusula pétrea inscrito no rol dos direitos e garantias fundamentais (Art. 5°, XIII da CF/88[3]). Ora, se o direito de defesa[4] é uma garantia constitucional toda e qualquer tentativa de sabotagem desse direito deve ganhar interpretação mais abrangente possível a fim de ser coibida e erradicada da cultura político-jurídica de um Estado.

 

Sabemos, porque a História assim nos tem ensinado, que limitação de poder é tema afeto e contemporâneo ao fim do absolutismo monárquico do Antigo Regime. Esses que pretendem, a pretexto de um falacioso combate à criminalidade, violar direitos e garantias fundamentais que representam conquista do regime democrático, atuam como verdadeiros tiranos que nada mais querem do que experimentar um poder ilimitado, nos moldes dos soberanos absolutistas de outrora, que muito embora tenham ficado no passado tenebroso da nossa História, ainda requentam reinvindicações e argumentos dos tempos sombrios da Medievalidade.

 

Se no Estado Democrático de Direito podemos contar com as garantias de liberdade no exercício profissional e do direito de defesa é porque só nela essas garantias encontram guarida. Atentar, pois, contra quaisquer dessas garantias é atentar contra a Democracia, o Estado Democrático e o próprio Direito.



[1] MALAN, Diogo. Advocacia criminal e sua criminalização. Revista Conjur. Disponível em https://www.conjur.com.br/2020-nov-18/diogo-malan-advocacia-criminal-criminalizacao/

[2]   Art. 133, CF/88.: “O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei”.

 [3]Art. 5°, XIII, CF/88: “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”.  

 [4]Art. 5°, LV, CF/88: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.

 


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