Podemos iniciar essa reflexão com uma
provocação (no bom sentido) bem simples: Por que o poder político tem que ser
dividido entre “diversas pessoas”?
Essa é fácil: se não se divide o poder, se
se permite que apenas uma pessoa o exerça, monocraticamente, corre-se sério
risco de que essa pessoa abuse do poder, se torne uma tirana.
Daí vem a teoria da separação dos poderes.
Só que essa teoria não é nova, como pensam alguns, não surgiu exatamente na
idade média com Montesquieu. Na verdade, desde a antiguidade greco-romana se
tinha ideias embrionárias da separação de poderes.
Dentre essas ideias embrionárias tinha o
que se denomina hoje de “teoria da constituição mista”. Para essa Teoria, todas
as classes sociais deveriam participar de forma equilibrada do exercício do
poder, de forma que uma não tentasse submeter outra.
Dessa forma se prestigiava a democracia
(governo do povo) e também a igualdade social pois se permitia uma aproximação
econômico-social entre as classes sociais existentes.
Isso de certa forma nos traz um alerta
sobre a nossa própria democracia, se considerarmos que Apesar de as mulheres
representarem mais de 50% do eleitorado e da população do País, o Brasil ocupa
a 143ª posição entre 193 países em participação de mulheres na política.
(fonte: site Câmara dos Deputados).
Apenas 31 das 184 cidades cearenses têm
uma mulher no comando da prefeitura, o que representa apenas 17% (dezessete por
cento). (fonte: Jornal “O Povo”).
Estima-se que no Senado Federal, das 80
vagas, apenas 15 são ocupadas por mulheres. (fonte: site do Senado Federal).
Somos maioria da população, porém minoria
dentro dos partidos e ocupando cargos. Qual a razão dessa baixa
representatividade?
No ano de 2022, uma pesquisa do
Observatório da Mulher contra Violência[1] envolvendo 2.850
candidatos dos mais diversos cargos políticos, questionou as razões para a
baixa representatividade feminina na política. Ente os motivos, os compromissos
e obrigações domésticas e a violência política de gênero estão entre as razões
apontadas.
Existem diversos tipos de violência política, das quais a violência política de gênero é uma delas.
Três em cada dez candidatas nas eleições de 2020 foram discriminadas por serem mulheres. O dado é da segunda edição da pesquisa Equidade de Gênero na Política, realizada pelo DataSenado em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência.
Mas o que é violência política em razão do
gênero?
Podemos conceituar violência política de gênero
como qualquer ação, conduta ou omissão, realizada diretamente ou por meio de
terceiros, que, em razão de seu gênero, cause dano ou sofrimento a uma ou mais
mulheres, e cuja finalidade seja impedir ou prejudicar o exercício de seus
direitos políticos.
Essa violência pode ser moral (injúria,
difamação, calúnia), psicológica (chantagem emocional), econômica (boicote no
financiamento, ter que ceder recursos da própria candidatura para outro
candidato), simbólica (interrupção da fala, desqualificar a mulher por não ser
casada ou questionamentos sobre sua vida privada, insinuações sobre a aparência
física, etc), sexual (exemplo caso Isa Penna que sofreu assédio sexual de
Fernando Cury, caso Anielle Franco) e também física.
Nas eleições de 2022, a deputada Larissa Gaspar, que na época era candidata a deputada estadual, relatou que sofreu violência política de gênero de um homem enquanto distribuía material de campanha “ele amassou nosso material, jogou violentamente contra nós enquanto filmava e nos dizia uma série de injúrias”[1].
A vice-governadora do Estado do Ceará, Jade Romero, foi chamada de " menino de recado" por vereadores cearenses[3].
Em Sobral, um homem suspeito de integrar
facção criminosa, foi preso após proferir ameaças à candidata Izolda Cela (PSB)[5].
Essa violência tem uma finalidade
política: impor medo às mulheres e desincentivá-las a permanecer no pleito
eleitoral, afastando-as e, dessa forma, influenciar o resultado das eleições.
Se por um lado, as mulheres saem gravemente
prejudicadas em razão da violência política de gênero, visto que sofrem
prejuízos em sua representatividade política, por outro não é menos verdadeiro
que toda a Democracia perde com isso, pois o pluralismo político deixa de ser
contemplado, a sociedade involui, e pautas urgentes deixam de ser debatidas
porque boa parte da sociedade (mais de 50%) não encontra representantes no
exercício do poder.
É urgente que se adote medidas efetivas de
prevenção é combate à violência política de gênero, mas também é preciso incentivar
candidaturas femininas, bem como a própria eleição de mulheres, para que esse
relevante e significativo segmento social encontre a adequada e almejada
representatividade.
[1]
https://www.brasildefato.com.br/2022/09/05/violencias-de-genero-os-desafios-das-mulheres-para-entrar-e-permanecer-na-politica
[2]
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2024/07/16/ciro-gomes-vira-reu-por-violencia-politica-de-genero-contra-senadora-que-chamou-de-assessora-de-assuntos-de-cama.ghtml
[3]
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/pontopoder/vice-governadora-e-chamada-de-garganta-de-aluguel-e-menino-de-recado-por-pedetistas-na-cmfor-1.3452047
[4]
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/pontopoder/candidata-a-prefeitura-de-caucaia-recebe-nova-ameaca-policia-investiga-1.3555406
[5]
https://g1.globo.com/ce/ceara/eleicoes/2024/noticia/2024/09/03/homem-e-preso-suspeito-de-ameacar-matar-izolda-cela-candidata-a-prefeitura-de-sobral.ghtml
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